Aproveitei as férias para passar
alguns dias em Cajueiro pensando em pegar umas ondas boas e dar uns drops
animais nas dunas por lá. Como tudo hoje em dia, a praia já não é a mesma, as
ondas já não são iguais as que peguei nas outras vezes que por lá passei. As
dunas também não foram dropadas como esperado, pois o período foi de muita
chuva e, estando a areia molhada, o sandboard não desliza.
Apesar de o mar estar bem
estranho, ainda deu para pegar algumas ondas boas no outside, próximo aos
barcos ancorados. Eram mais esquerdas e com cerca de dois a três pés. Nas
outras vezes que estive por lá, tinha onda direto, começando no final de
dezembro e indo até o final de fevereiro, incluindo aí algumas ressacas com
ondas de até seis pés. Nesta minha atual passagem, foram poucos dias de onda no
mês de janeiro. Apenas quatro dias com ondas surfáveis, mas deu para lembrar as
ondas que tive o prazer de surfar em outros tempos. Creio que a mudança do
fundo influenciou muito o potencial do pico do porto. Fizeram um tipo de
engorda na praia (elevaram a altura da faixa de areia) alterando o fundo, o que
prejudicou bastante a formação das ondas no local.
Com relação às dunas, a chuva deu
um tempo e o Sol veio com tudo. Assim, aproveitei para tirar a poeira do
sandboard. Tanto as dunas de Cajueiro como as de Lagoa do Sal já tinham sido
descobertas pela praga que assola as praias – o quadriciclo. Esta praga, que
vem se associar aos bugres e veículos de tração, saem destruindo vegetação
litorânea e dunas atrás de aventuras irresponsáveis e criminosas. Algumas fotos
do álbum abaixo mostram rastros dessa praga.
Apesar desta contrariedade, deu
para curtir bons drops nas dunas, respeitando área com vegetação e raízes, e
sem repetir as descidas na mesma trilha. Nestas trips estive sempre sozinho,
afinal, apenas doido sai ao meio dia para subir e descer as dunas várias vezes
com a temperatura elevada da areia. De quebra deu para encontrar alguns cajus
para matar a sede, tanto em Cajueiro como em Lagoa do Sal.
As caminhadas também foram boas
tanto para o distrito de São José, indo para o lado de São Miguel do Gostoso,
como para Touros (outro extremo). Para São José tive que passar pelas falésias,
que se modificaram bastante em relação às outras vezes que caminhei por lá. O
mar engoliu muita área derrubando grandes extensões dos paredões que compunham
esta faixa do litoral. Muitas cavernas sumiram e outras apareceram, mas que
também serão engolidas pelo mar em curto espaço de tempo.
Além da caminhada pela praia para
São José, fiz também uma trilha para uma área onde ainda resta um remanescente
de mata. Para variar, a saída de casa foi às 12 horas e o retorno por volta das
15, com a temperatura bem “aconchegante”. Nesta trilha deu para sentir o
gostinho do que é ser índio, pois estava apenas de bermuda e descalço, andando
inicialmente por mata rasteira e com espinhos, seguindo-se uma faixa onde
abundava arbustos, muitos do mesmo gênero da pitanga (Eugenia) carregados de
frutas bem suculentas chamadas (?) de grumixama (arroxeada) e ubaia-azeda (amarelada),
além de cajueiros, coqueiros e também os guajirus (Chrysobalanus icaco). Mas o
melhor foi mesmo quando cheguei à mata fechada contendo espécimes arbóreas, com
cipós caindo do alto dos galhos e muito mosquito e mutucas. Já havia um caminho
feito pelo gado que passava por entre as árvores, primeiro subindo os morros e,
na sequência, descendo, indo em direção aos sítios situados a beira da estrada
que liga Cajueiro à São José. Infelizmente pude ver algumas árvores cortadas,
provavelmente para fazer cercas e mourões para as propriedades vizinhas. A
ignorância de que aquela mata transformou uma duna e impediu-a de enterrar tudo
a sua frente durante milhares de anos pode condená-los a serem engolidos mais
na frente como já acontece em vários lugares pelo nosso litoral. Para piorar o
quadro, a Lagoa do Sal atualmente se encontra seca, resultado da crise hídrica
que passa a região (fotos no álbum abaixo).
O pior das caminhadas realizadas
foi para Touros. O litoral foi muito atingido pela elevação do mar que derrubou
grande parte das casas e as dunas também estão fazendo sua parte engolindo
casas na faixa litorânea. O mais triste foi ver o rio Maceió, que passa por
dentro de Touros, transformado em esgoto puro. Mesmo a uma certa distância do
rio se sentia o mau cheiro de suas águas poluídas. Para combinar, o lixo nas
margens e nas áreas próximas. Não é à toa que a natureza atingiu tão
intensamente a faixa litorânea do município destruindo residências, comércios e
os espigões de pedras que foram colocados no início da praia para reduzir sua
fúria. Hoje, tanto as pedras como a malha de ferro que as encerrava se
encontram espalhadas pela praia fazendo companhia às ruínas das construções e
ao esgoto jogado diariamente na praia. É a maior prova do que ocorre quando o
poder público irresponsável se associa à cidadãos ignorantes sobre o respeito à
natureza. Triste de ver o que acontece com a esquina do país.
Desta vez, durante as caminhadas
noturnas, não tive a companhia de nenhum planeta, visíveis apenas durante a
madrugada, mas em compensação as constelações chamaram a atenção, realçadas
pelo céu limpo de alguns dias e livre de poluição luminosa. Destaque para Órion,
Cão Maior, Gêmeos, Touro, Cocheiro e Quilha visíveis logo após escurecer.
Abaixo o álbum com as fotos das
dunas e das caminhadas indo para São José e Touros, além de um curto vídeo de
um drop realizado nas dunas de Cajueiro depois de deixar a câmara gravando.
Infelizmente não foi possível registrar imagens dos escassos dias de surf.
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Roteiro da caminhada entre São José e Touros. |
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TOUROS FEV_2016 |
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CAJUEIRO FEV_2016 |
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