A aventura agora é entre Sagi no RN e Barra de Camaratuba na
Paraíba. Neste trecho a natureza ainda é presente, mas foi muito degradada entre
os anos de 2005, quando lá estive a primeira vez, e 2018, onde agora passo uns
dias. Com passagens também em 2016 acompanhando alunos e 2017 (ver post aqui e aqui). Essa
degradação se deu pelo desmatamento e destruição de dunas devido a mineração e
usina eólica. O acesso na primeira visita era a partir de estrada de barro e
por entre canavial. Hoje temos asfalto e o canavial foi substituído pelas
torres eólicas.
Fiquei uns dias em Barra de Camaratuba, distrito de Mataraca
no estado da Paraíba, na casa de um conhecido e de lá fiz minhas aventuras para
Sagi e Baía de Traição caminhando pela praia. O trecho Barra de Camaratuba até
Baía de Traição será assunto para outro post. Nesta casa, que tem algumas árvores, pude
observar uma família de saguis, pássaros como rouxinóis, sabiás e rolinhas,
além da praga dos pardais e, também, uma família de iguanas verdes (fotos no
álbum abaixo). Os pardais tratei de expulsá-los do local. Foram cantar noutro
lugar aparecendo de vez em quando para me testar, mas botava-os para correr de
novo.
A caminhada que descrevo ocorreu no dia 09/04/2018. Iniciei
por volta das 13:30 horas e o retorno foi à noite cerca de 20:00 horas. A
caminhada partiu de Barra com a maré secando. Caminhada difícil por ter muitos
trechos com areia fofa, mas foi sem problemas com tráfego dos 4x4, praga que
assola nossas praias. No trajeto pude registrar as mudanças devido à instalação
das torres eólicas. Muita área de mata atlântica foi destruída e as trilhas por
onde caminhava em 2005 desapareceram. Agora temos toda a área cercada com arame
farpado para evitar o acesso às torres eólicas. Foram duas usinas instaladas
neste trecho. Uma próxima de Barra de Camaratuba e outra próxima de Sagi na
área onde já existia uma mineradora de titânio. Tanto a mineradora como as
usinas, pelo que ouvi alguns locais falarem, estão fazendo reflorestamento.
Recuperar áreas de dunas degradadas não é fácil e nunca voltarão ao que era
antes devido a dinâmica dos ventos e areia no litoral. O mar já engoliu uma
grande faixa de areia e destruiu construções no litoral de Barra de Camaratuba e
de Sagi (fotos no álbum). É ver para crer. Eu não estarei mais aqui se isso
ocorrer e só as próximas gerações saberão e sentirão o resultado.
Neste trecho existem lagoas (maceiós) no caminho entre as
duas barras – Guajú e Camaratuba. No álbum abaixo registrei duas delas que são
mais exploradas. A barra do Guajú em Sagi, divisa entre o Rio Grande do Norte e
Paraíba, foi completamente modificada tendo o mar avançado e inundado uma grande
área formando até uma ilhota com mangue na maré cheia. Na maré seca se pode
atravessar a pé o rio Guajú e chegar até a praia de Sagi. A orla da praia já sofre
as consequências do avanço do mar com muitas construções destruídas. A barra do
Guajú era um braço do rio estreito que se ligava ao mar já na praia. Havia uma
duna alta, muita visitada por turistas e pela comunidade local, que era
utilizada para descida de tábuas de morro (equivalente ao sandboard) e cercada
de mata atlântica. Era fantástico ver lá de cima, debaixo de árvores
centenárias, o mar, o rio e as dunas. Hoje não se tem mais essa duna nem a mata
trocadas por torres de vento. Mas se tem um terminal turístico com várias
barracas, que já sofrem a ação do avanço do mar, e uma tirolesa que atrai a
atenção de muitos visitantes nos seus 4x4 e bugreiros vindo de Baía Formosa.
Hoje uma grande área foi invadida pelo mar mudando completamente a geografia do
local.
Após atravessar o rio Guajú me deparei com mais mudanças no
trecho até a praia de Sagi. O avanço do mar engoliu uma grande faixa de areia e
o bicho homem destruiu uma parte da falésia para fazer uma estrada fazendo uma
ligação para a praia. O barro sem cobertura vegetal, veículos 4x4, tratores e
somando-se chuvas e ventos só poderá resultar na degradação da falésia. É
esperar para ver.
A volta se deu por volta das 17:30 horas, agora sem paradas
para retirar fotos e explorar locais, já escurecendo. No caminho, tendo à
frente o sul, observando as constelações do Cruzeiro do Sul, Centauro e Quilha;
no oeste as constelações de Órion, Touro com as Plêiades, Cão Maior e Cão
Menor; no leste Virgem e Leão. Para o norte a sempre bela e formosa Ursa Maior.
Apesar de não ter Lua no céu tinha muitas nuvens o que dificultava a
observação, mas essas constelações citadas estavam na maior parte do tempo de
caminhada visíveis após o escurecer tornando a caminhada do regresso bem
prazerosa. No zênite as constelações de Gêmeos e Câncer também apareciam por
entre nuvens. Com relação aos planetas meu costumaz companheiro de andanças –
Vênus – esteve visível no oeste até umas 19:00 horas quando se escondeu entre
as elevações dunares. No leste, também por volta das 19:00 horas, Júpiter se
fez presente e me acompanhou no resto da caminhada, aqui e acolá se escondendo
entre as nuvens. Como trilha sonora o som das ondas do mar, do vento e o barulho
das pás girando das torres como interferência.
Foram cerca de 30 quilômetros de caminhada (ida e volta). Faltando ainda
o trecho do distrito até o encontro do rio Camaratuba com o mar. Cerca de 3
quilômetros ida e volta no sentido contrário.
O distrito de Barra de Camaratuba também sofre terrivelmente
pelo avanço da maré que engole faixas de areia e, nesse avanço, destruindo
construções (imagens no álbum). As ondas mudaram muito. Não temos mais as ondas
clássicas de antigamente nas marés cheias. Hoje temos muitas pedras aparecendo
na praia, fora as originadas pelas destruições durante as ressacas, e o fundo
muito irregular deixando as ondas sem boa formação. Ainda temos restos de mata
atlântica, mas muito se perdeu em vegetação e dunas devido à instalação da
usina eólica e a mineração (titânio). Antes podia dropar dunas incríveis com o
sandboard no caminho entre Barra de Camaratuba e Sagi, hoje só se consegue
encontrar poucas dunas baixas. Uma mudança radical entre minha primeira visita
em 2005 e agora em 2018.
A caminhada da casa para a barra do rio Camaratuba não é
demorada (1,5 Km), mas o avanço do mar tem feito estragos consideráveis na
orla. Muitas casas e pousadas têm tido prejuízos com muros destruídos e ameaças
sérias de perda dos imóveis. A barra do rio Camaratuba também modificou-se com
o avanço do mar e, algumas vezes, a maré cheia inunda áreas com construções
(barracas dos comerciantes locais – terminal turístico). Provavelmente essa
área deverá ser engolida pelo avanço do mar. O visual de muito verde da barra do
rio também começa a se deteriorar, pois já existe uma área numa elevação que
cerca o local sem cobertura vegetal (imagem no álbum). Com certeza provocada
por visitantes que sobem para ver o visual lá de cima ou para fazer
acampamentos improvisados. Essa área sem cobertura sofrendo o ataque humano e a
ação de vento e chuva se ampliará e sofrerá mais degradação. Vamos esperar que
as autoridades e comunidade local se atentem para isso a tempo.
Embora tenha narrado uma caminhada, na verdade fui várias
vezes para Sagi e/ou barra do Guajú. Às vezes levando meu sandboard para dar
uma caída numa das poucas dunas de qualidade. Mesmo não sendo muito alta dava
para ter um gostinho de adrenalina. Já para o outro lado fui mais vezes devido
a proximidade e para observar a qualidade das ondas na saída do rio (outro point
de surf). Além do banho que é bem agradável. Na maré seca com água do rio e na
maré cheia com água do mar, mas sempre sem ondas, pois o banco de areia na
entrada protegia da ondulação. No entanto, com o mar de ressaca as águas passam
por cima do banco e aí complica tudo.
Na próxima aventura atravessaremos o rio Camaratuba na maré
seca com destino à Baía de Traição. Abaixo temos o álbum contendo imagens da
caminhada e do que foi observado. Também tem uma imagem do Google Earth mostrando
os fatos citados no texto e o trecho percorrido nesta aventura.
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