sexta-feira, julho 06, 2012

VERSOS PARA PENSAR

Começa hoje a campanha política e, diante do grande número de maus políticos no Brasil,  nada como fazer nossa parte alertando para que não deixemos que os outros pensem e decidam sobre nossa escolha, não nos enganando com as promessas fáceis e o discurso bonito, muito comum nesta época. Para isso utilizaremos versos de dois poetas que nos alertam deste perigo. O primeiro deles é Augusto dos Anjos, já citado em um post anterior (aqui), se referindo a boca que beija é a mesma que escarra e a mão que afaga é a mesma que apedreja, ou seja os políticos são muito bons na hora de pedir o voto, mas depois muitos deles te apedrejam e escarram quando não se preocupam com a saúde, educação e segurança, entre outros problemas que acometem a população. O pior é que ao se ver a maioria agindo desta forma irracional, como fera, se passa a se achar que é o normal e torna-se também fera (dominada). 
O outro é Eduardo Alves da Costa, que usou seus versos para reclamar do que ocorria em 1964, referindo-se ao poeta russo Maiakóvski. Este poeta apoiou a revolução russa, mas depois de algum tempo se viu enganado e perseguido, pois queriam que seus versos fossem escravos do regime. Ele preferiu se suicidar ( ou foi forçado a se suicidar pelo regime? ). O poema de Eduardo é longo, mas vale a pena ler (principalmente a parte em negrito) porque continua atual. Se antes tinha a ditadura militar usando as armas contra a qual o poeta usava seus versos, hoje temos a ditadura dos partidos usando a esmola e a ignorância para calar e intimidar, se perpetuando como feras dominantes liderando feras dominadas. A democracia continua sendo a melhor opção para mim, mas votar em gente que não tem nenhuma ligação com nossa localidade, ou gente imposta por outros é uma temeridade. Uma forma de se reduzir este problema é o voto distrital, onde os candidatos saem do meio, sem precisar pedir permissão aos donos de partidos. Quer saber mais sobre o voto distrital, clique aqui ou no link à direita da página. Abaixo os versos dos poetas.

 Versos íntimos - Augusto dos Anjos

          


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!



No caminho com Maiakóvski - Eduardo Alves da Costa
               
            

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio do meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!



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