domingo, julho 22, 2012

AVENTURA NORTE - SÃO MIGUEL DO GOSTOSO

Continuando a aventura pelo litoral norte, agora chegamos em São Miguel do Gostoso. Esta história vai ser dividida em duas partes: uma para o lado noroeste - São Bento do Norte - e outra para o lado nordeste - Praia de Cajueiro.
Na última aventura consegui chegar até próximo da praia de Enxú Queimado, no município de Pedra Grande, agora, em São Miguel do Gostoso, onde trabalhei e morei por dois anos, fui para explorar as dunas e as ondas em Cajueiro e Lagoa do Sal ( ambos locais pertencentes ao município de Touros ). Minhas primeiras caminhadas foram para completar o trajeto na direção noroeste, começando primeiro com a praia de Tourinhos. No caminho nada de dunas nem ondas, mas o visual do pôr do sol de cima das barreiras é de tirar o fôlego. A praia, na época, estava sempre deserta, já que eu ia sempre depois do meio-dia, então era realmente uma caminhada fascinante. Antes de retornar, tomava um banho reparador e várias vezes acompanhado de quatro a cinco golfinhos que apareciam durante o entardecer. Não cheguei a tocá-los, mas às vezes a proximidade era tanta que parecíamos velhos conhecidos conversando banalidades. A volta já escurecendo, algumas vezes com o nascer da Lua cheia, outras na completa escuridão, observava o céu estrelado e os planetas visíveis, o mais comum, claro, Vênus, com seu brilho especial já ao entardecer. Nesta praia pude também ter o privilégio de ver a pedra com suspiro, muito falada pelos moradores de Gostoso. Este suspiro nada mais é do que a onda adentrando as cavernas das pedras e saindo sob pressão por uma abertura na face superior, como um respiradouro de baleia. Não sei se hoje ainda existem golfinhos e se ainda existe a tranquilidade e paz nesta praia, mas na época me sentia no paraíso.
As caminhadas para Tourinhos foram uma preparação para a da praia dos Marcos, local onde foram encontrados os marcos de posse portugueses. Na verdade era um só marco, que hoje se encontra esquecido e abandonado na Fortaleza dos Reis Magos, os outros eram pedras comuns que ajudavam a sustentar a principal. Estas auxiliares eram denominadas tenentes e se perderam com as mudanças de local devido ao avanço da maré. Para ir até esta praia iniciei a caminhada pela manhã chegando por volta do meio dia. Já a conhecia, devido a um projeto realizado na escola sobre a história do primeiro Marco de Posse do Brasil. Clique aqui para ler o post relacionado ao assunto. No entanto, a caminhada me possibilitou conhecer a orla e verificar a presença de dunas e ondas em Morro dos Martins e dos Paulo, além de servir de preparação para a última etapa que era ir até depois de Enxú Queimado.
Não sei se foi a minha maior caminhada, mas foi a mais penosa. A ida para Enxú Queimado foi realmente desgastante, no entanto prazerosa. Iniciei minha aventura pela manhã cedo, por volta das sete horas chegando na praia dos Marcos por volta do meio-dia. Como sabia que tinha muito chão pela frente, resolvi tomar um banho na praia e comprar uma garrafinha de água mineral para levar. Em torno de uma hora já estava passando pela pousada dos Marcos e pelas dunas ao seu redor com potencial para alguns drops curtos e inclinados. Na saída de Gostoso a maré estava cheia já secando, na saída dos Marcos, já começava a encher. Fui chegar em Enxú Queimado por volta das três ou quatro horas, não tenho certeza, passando por praias desertas. Haviam muitos barcos de pesca ancorados e alguns bares onde fui procurar água de coco. Infelizmente só encontrei refrigerante ou bebidas alcoólicas, nada para mim portanto. Caminhei mais um pouco na direção de São Bento do Norte até avistar, longe ainda o farol, mas como o Sol já estava próximo do horizonte, resolvi voltar. O Sol se pôs e as estrelas brilharam rapidamente, como que dizendo estamos aqui para te acompanhar. A maré já cheia tornava minha caminhada mais difícil e penosa, as ondas rugindo assustadoramente, como que dizendo para não vacilar, pois teriam muito prazer em me levar. Foi entre pensamentos como esses que cheguei na praia dos Marcos, com muita sede e fome. Mais uma vez procurei coco, mas não encontrei no único bar residência que achei aberto, então apelei para água mineral e, pasmem os que me conhecem, um saco de broa preta ( também denominada de soda, acho ). Depois de comer umas duas broas e tomar uma garrafa pequena de água mineral, continuei minha caminhada para Gostoso, levando o restante das broas e mais uma garrafa de água. Foi nesta parte da caminhada que as pernas começaram a reclamar do regime penoso de andar na areia fofa, já que a maré ainda estava cheia. Tive que parar umas duas vezes até chegar em Gostoso, para comer mais uns pedaços de broa e beber uns goles de água, aproveitando para descansar as pernas, mas parece que era pior, pois ao me levantar, os músculos das pernas se recusavam a trabalhar. Sufoco grande. Enganando meu corpo e minhas pernas em especial, olhando para as estrelas e para os meteoros ( estrelas cadentes ) que conseguia ver, fui me aproximando das praias de Gostoso. Já vislumbrando a luminosidade da cidade, me deparei com uma vacaria que se encontrava na praia, agora com a maré já secando. Ao sentirem minha presença se assustaram e debandaram numa correria adoidada. Elas com medo de mim e eu com medo da correria delas. Acho que me tomaram como um fantasma chegando de fininho e, no estado em que me encontrava naquele dia, até eu me assustaria me vendo naquelas condições. Resolvi fazer minha segunda parada, beber mais uns goles e mastigar uns pedaços de broa. Foi uma parada de uns trinta minutos acho, em que continuei, apesar de sentado na areia, mexendo com as pernas, pois a última coisa que queria era um travamento nos músculos já vendo as luzes de Gostoso. Antes de continuar a caminhada, resolvi deixar o resto das broas sobre uma catraia ( barco feito de ripas, tábuas e isopor ), para quem sabe?, as vacas quando voltassem se deliciassem com o presente deixado pelo intruso. Fui chegar em casa já por volta das dez horas, depois de caminhar uns 70 quilômetros ida e volta, só de bermuda e com uns trocados no bolso, coisa de doido, como dizem os que me conhecem. Hehehehe. 
Abaixo uma imagem retirada do Google, indicando o trajeto percorrido nesta direção, e uma da praia dos Marcos, mostrando a réplica colocada no lugar do original.



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