Passei uns cinco anos morando em Mossoró/RN, dando aulas de Matemática e Ciências em algumas escolas públicas. Como praticante do surf e sandboard, sabia que o potencial para ondas seria bom apenas para o lado do estado do Ceará (Aracati por exemplo ), mas tinha esperança de pegar algumas marolinhas para os lados de Morro Pintado , Ponta do Mel e São Cristovão. Com o sandboard tinha certeza de ter ótimas aventuras nas dunas bastante comuns na região. Esta primeira aventura trata da exploração das dunas da praia de Baixa Grande, em Areia Branca/RN.
Baixa Grande foi minha primeira tentativa de verificar o potencial para onda e dunas. Na primeira investida, descobri que o ônibus que fazia a ligação Mossoró/Areia Branca não iria para esta praia, parando no entroncamento. Eu poderia ir até o final da linha ( Areia Branca ) e pegar uma moto ou esperar uma condução que se dirigisse para a praia. Como bom aventureiro e bom andarilho nem pensei duas vezes e saltei do ônibus, pegando a estrada de paralelepípedo. Após quase uma hora de caminhada, cheguei a uma praia praticamente sem ondas, na maré seca e que precisa entrar bastante no mar para poder a água cobrir os joelhos. Um paraíso para a criançada. Bom para relaxar da caminhada, que estava só no começo, pois estávamos apenas no início da manhã e o ônibus só iria voltar, passando apenas pela estrada principal ( BR 110 ), por volta das quinze e trinta. Sem ondas, já relaxado da caminhada, hora de voltar à exploração, agora em busca de dunas. A praia ainda era deserta ( 1995 ), com poucas casas de moradores e a época não era de veranistas, portanto tinha que me virar sozinho. Sabia que tinha dunas, pois conversei sobre o assunto com colegas em Mossoró, agora era descobrir onde e para isso tinha que andar para o interior, em busca dos pontos brancos vistos da praia. Foi uma bela caminhada cruzando com vegetações típicas de dunas, lagoas com água salobra, gado bovino, equino e caprino, tentando marcar pontos que me indicassem a volta, caso contrário poderia me perder e, sem água, sem comida e com carcaças de animais mortos rindo de mim, não seria nada legal. Mas no final deu tudo certo, encontrei uma região onde tinha três dunas próximas com altura e inclinação legais para possibilitar um sandboard de responsa, inclusive com alguns aéreos em bancos naturais no final de uma delas. Foi para esta região que voltei várias vezes, sempre depois de andar bastante pela estrada e até as dunas, ida e volta, sempre explorando um pouquinho mais, tentando aumentar meu conhecimento da área, claro que agora levava uma garrafinha de água para beber durante as sessions, pois o sol é inclemente e torna-se pior ainda quando estamos sobre a areia alva e quente. No primeiro dia tentei me refrescar nas poças e lagoas rasas com águas da chuva, depois de subir e descer várias vezes as dunas em horários condenados pelos dermatologistas. O problema é que a água é extremamente salobra e, portanto, em contato com nosso corpo, ela retira mais água do organismo, desidratando-o, um perigo nas condições extremas em que me encontrava. Além do mais , não consegui companheiros malucos como eu que topassem este tipo de aventura. Agora é que vem o melhor, pois estava sempre procurando novas dunas com potencial e me esqueci de um comentário dito por um vaqueiro com quem cruzei nas minhas caminhadas, que me disse para ter cuidado com areia movediça. Na verdade achei que ele estava testando minha coragem. Vacilei e paguei por este vacilo. Dunas e poças de água formam também a chamada areia movediça. A água na areia, reduz o atrito entre os grãos, facilitando o deslize, assim alguém que entre numa área com estas características pode afundar. Se ficar calmo poderá flutuar como se fosse na água. Quem já andou em lama conhece a sensação de afundamento. Quando este afundamento passa os limites do que consideramos normal, então o medo nos acossa. Foi isso que aconteceu comigo. Quando fui atravessar uma pequena poça, simplesmente afundei até a cintura, e era só areia e água, próximo, não tinha nada para me segurar, apenas minha prancha. Foi ela que me salvou, pois mesmo que não afundasse totalmente, a impossibilidade de sair da situação aliada a desidratação e o sol inclemente com certeza me matariam. Como continuei com a prancha na mão, pude me apoiar nela, deslizando por cima, até sair da armadilha. Foi a deixa para terminar a brincadeira do dia e entender o acontecimento como um aviso da natureza para respeitar o limite. Fiquei apenas nas áreas já exploradas, aproveitando o visual que poucos olhos viram. As fotos abaixo, que foram retirada do Google Earth, mostram que as dunas sofreram deslocamento e que o bicho homem também invadiu a área com a praga da criação de camarão, mas dão ideia do que enfrentei por lá.
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Praia de Baixa Grande em Areia Branca/RN |
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A região das dunas e o caminho. |
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