“Enterrem as
correntes”, livro do autor Adam Hochschild tratando da história do movimento contra a escravidão no Reino Unido, mostra que quando navios ingleses atacavam
navios negreiros na costa da América (norte, sul e central), não eram por
motivos de consciência moral e humanitários. Pelo menos esses não eram motivos que
levassem a frota mais poderosa à época a atacarem. O verdadeiro motivo é que, com
a abolição no país, conseguida após muita luta e trabalho de várias pessoas e
organizações, a nação não poderia ficar em desvantagem com relação às outras
nações que ainda utilizavam o tráfico, incluindo aí o Brasil. Assim, levantando
a bandeira moral da luta contra o tráfico, atacavam os navios negreiros. Nesse
processo, mesmo não sendo o motivo principal para os ataques, acabaram
trabalhando pela abolição dos escravos em várias partes do mundo, pelo menos da
forma que existia.
A história do movimento abolicionista na Inglaterra, bem descrito pelo autor do livro, passa por um penoso e lento processo atravessando conflitos com franceses (revolução francesa e guerra contra
Napoleão), americanos (guerra da independência) e revoltas de escravos nas
ilhas caribenhas produtoras de açúcar. Dentre essas revoltas se destacam as rebeliões
no Haiti e Jamaica.
Os absurdos produzidos durante esse período, que ainda hoje
se observam com roupagem diferente e um pouco atenuada, são descritos de forma clara e comprovam o sofrimento pelo qual passaram milhões de negros, retirados
de maneira violenta de suas terras, inclusive com a participação de seus
próprios irmãos africanos.
No livro conhecemos líderes negros que pouco são falados, ou
quando são, de maneira sucinta e, ao meu ver, sem traduzir a grandiosidade deles
no momento do conflito. A história da rebelião no que hoje conhecemos como
Haiti, nos faz entender porque este país chegou a situação tão
miserável em que se encontra hoje. Os escravos revoltosos lograram êxito contra o poderoso exército da Inglaterra e, na
sequência, do exército francês enviado por Napoleão, mas o custo da liberdade foi
a destruição das riquezas da ilha, seja pelo fogo e/ou pela tática do arrasa
terra.
A escravização de humanos por humanos já existia quando os
ingleses se iniciaram neste negócio, mas lendo o livro, descobrimos que a nação
mais poderosa daqueles tempos incorporou métodos de tortura em escravos e as exportou
para outros países, incluindo aí o Brasil. O resultado foi um preço muito caro
em vidas humanas e prejuízos financeiros.
Enfim, para quem quer aprender um pouco mais da história da civilização humana, em especial desse período em que o tráfico de escravos negros foi
preponderante, vale a pena ler o livro e, de quebra, conhecer a história de vários personagens famosos ligados diretamente ou indiretamente ao processo de abolição dos escravos no Reino Unido, como Voltaire,
para citar um, grande figura do iluminismo, que concordou em dar seu nome a um
navio negreiro. Acho que agora, sabendo disso, sua morte não será tão lamentada
assim.
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