sábado, fevereiro 04, 2012

HISTÓRIA DE SURFISTA - BAÍA FORMOSA

Este fato aconteceu no final da década de 80, quando aluguei uma casinha bem simples, para um final de semana, perto da quadra de esportes e do campo de futebol, no município de Baía Formosa ( BF ). Na época BF não era tão famosa e procurada como hoje. A procura maior era dos surfistas pela direita do Pontal e, já nesta época, com muitas cabeças disputando as ondas, às vezes dando até briga com os locais. A cidade vivia da pesca, principalmente lagosta, e da plantação da cana-de-açúcar, tendo uma usina por lá também. O lado da praia após o Pontal, indo na direção da praia do Sagi, era praticamente deserta, apenas umas duas barracas feitas de palha de coqueiro, que só funcionavam nos sábados e domingos para atender os visitantes que chegavam em um ou outro ônibus ( haja farofa, galeto e cachaça menino!! ). A praia de BF, nesta época, ia apenas do Porto até o Pontal.
 Não sou de disputar onda com ninguém e muito menos brigar por isso, assim, para conseguir pegar algumas ondas no Pontal, acordei de 4 horas da manhã, ainda escuro, e consegui ser o primeiro no pico, pegando algumas ondas boas, mas não tubulares. O Pontal é famoso pelos tubos para a direita. Após pegar umas três ondas, já havia outras cabeças na disputa e então resolvi me retirar. Não sei porque está direita nunca conseguiu me ganhar. Talvez por este meu espírito aventureiro e solitário não curtir locais muito concorridos, quem sabe?, o certo é que procurei outros picos para surfar. Tentei o Porto, mas não me animei, apesar de ter umas ondinhas boas. As ondas no Porto têm o drop mais fácil e por isso o local é mais frequentado, além de ter ondas se formando não só em um ponto como no Pontal. O problema é que eu estava procurando um pico sossegado, sem stress. Talvez se as ondas estivessem melhores, eu me animasse mais..., não sei. Como não era o caso, pois o swell ( ondulação ) não estava bom, fui experimentar o outro lado do Pontal, mas as ondas estavam ocas e rápidas, uma ou outra dava um drop rápido sem possibilitar nenhuma manobra. O espírito aventureiro falou mais alto e resolvi explorar o litoral em direção à Sagi, pois ainda era manhã. A aventura completa será motivo de um post em que relatarei os acontecimentos pelo litoral sul através das caminhadas, aqui vou relatar apenas o pico descoberto e desbravado por mim, após uma pequena caminhada descendo para o sul. Este pico não é constante, mas neste dia em especial, visualizei da praia, na maré enchendo, umas formações rochosas um pouco afastadas da orla e com um espumeiro próximo. Resolvi arriscar e remei com minha prancha até o local. Ao chegar lá, pude verificar as ondas se formando perfeitas com cerca de 4 pés ( 1,2 metro ) e a água de um azul claro e quente, um presente do céu. A onda  quebrava para os dois lados e longe da praia, embora a direita fosse melhor. Não era muito extensa, mas dava para dar umas pauladas bem iradas na parede. Para variar estava sozinho, pois tinha sido o primeiro dia em BF e uma turma de amigos e amigas só chegariam no outro dia. As ondas se formavam devido a um banco de areia que havia no local e ao swell e vento favoráveis. 
À medida que a maré foi enchendo as ondas foram perdendo consistência e engordando, ficando mais demoradas, mas ainda dando um bom surf. Quando voltava de uma onda surfada, pude ver nitidamente um surfista bem diferente, deslizando pela onda na minha frente. Parece que ele estava rindo para mim e dizendo: " Descobriu o pico né?". Foi incrível, porque ao final da onda ele ainda deu um aéreo alucinante. Quando cheguei no outside ( linha após a arrebentação ) e olhei para trás, vi que não era apenas um, mas sim dois surfistas disputando as ondas comigo. Ficaram bem próximos de mim, como se quisessem falar alguma coisa, então veio uma onda com cerca de 5 pés de altura ( 1,5 metro ), com parede bem formada e pedindo ação.  Olhei para eles e para a onda, como desafiando-os para o drop, rindo de mim mesmo desta possibilidade e dropei a onda indo para a direita. No final do drop, já direcionando o bico da prancha para o lip ( crista ) da onda, vi os dois surfistas lado a lado na minha frente gritando huhuuuu... huhuuuu...  A adrenalina foi às alturas e gritando também, mandei um rasgadão, jogando um leque de água para cima no mesmo momento em que os outros dois surfistas davam um aéreo animal, mostrando a competência deles na arte de surfar. A onda engordou e tive que abandoná-la, juntamente com meus novos parceiros. Agora falávamos a língua da emoção, pois eu gritava huhuuuu... e eles respondiam com a mesma emoção: Huhuuuu... huhuuuu...
Foi a última onda que pegamos, pois a maré encheu dificultando a formação. Os meus companheiros ficaram mais alguns minutos no pico brincando e, após levantarem as cabeças da água na minha direção, balançaram-nas, como se fosse uma despedida, se afastando em direção ao oceano. Este dia foi mágico, pois tive a satisfação de estar em um pico com ondas boas e com dois parceiros fantásticos, que me escolheram para compartilhar de suas alegrias. Estes parceiros, claro, foram dois golfinhos ( Delphinus delphis? ) .
Voltei no outro dia para checar o pico, várias vezes,  mas não havia sinal nenhum, nem de onda nem dos parceiros do dia anterior próximo das pedras. Quando a turma chegou, contei a história para eles e, por mais que falasse sério, curtiram um bocado com a minha cara e, rindo, diziam que era história de surfista. Fazer o quê né?. Para mim ficou registrada a imagem do leque de água da rasgada, com os dois golfinhos no ar, em um lugar que denominei de pico dos golfinhos. Quem quiser que acredite, mas que foi verdade foi. 

A orla de BF e o provável local do encontro com os golfinhos.

Acho que os parceiros também estavam fugindo de ondas como esta acima.

Um comentário:

  1. tu conta cada uma, a galera pensa ate que e verdade. ainda bem que a galera ja sabia, que era historia de surfista, não de pescador.ate pq, pescador n mente, relata os fatos acontecidos.mesmo que n tenha presenciado.tu gosta de uma farofa, fala a verdade, waleu continue, to ligado cara, essas historias são massa,e depois n tem coisa mais linda que nosso litoral/RN. valeu o povão merece conhecer pelo menos por historias, e muito mais por vc que é um cara fantastico.waleu ta na hora de fechar a budega meeneno!

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