Na última aventura postada o encerramento tinha sido em
Pitangui. Nesta, continuaremos até a praia da Redinha. O ponto de apoio foi a
praia de Genipabu para onde fui no ano de 1985, durante as férias de janeiro,
com familiares. Ficamos em uma casa alugada próxima da praia, mas não de frente. Na época não havia essa invasão imobiliária e turística,
as dunas ainda eram pouco exploradas inclusive pelos bugres, que percorriam
mais o litoral.
Para lá levei o windsurf (prancha à vela) da marca Triton. Foram boas velejadas no mar
tranquilo e de ondas pequenas. Voltei outras vezes para surfar com colegas, mas
o mar apresentava apenas merrecas, não valendo a pena o surf. Já as velejadas
sim, tanto que para lá fui nos anos seguintes velejando de Laser (pequeno barco
à vela) saindo do Iate Club no rio Potengi. Na época, entre os anos de 1985 e
1988, não havia a ponte Newton Navarro e a velejada passava por uma passagem
entre as pedras do lado da praia da Redinha, o que reduzia o tempo de viagem.
As primeiras caminhadas foram para explorar as dunas
desertas e sem cercas, bugres e turistas. Estes se localizavam mais na orla da
praia ou descendo as dunas na beira da praia. Nestas caminhadas, que se iniciavam
com a subida da duna na beira da praia, encontrei a lagoa de Genipabu, na época
um paraíso com sua natureza ainda intocada. Hoje, tanto as dunas como a lagoa estão
tomadas pelo turismo, construções e suas nefastas consequências. Cercas
delimitam o acesso (apareceu dono para a área), animais exóticos (dromedários)
perambulam com turistas e os bugres e carros 4x4 também. Na época em que andei
por lá, explorei cada duna e área com vegetação. Algumas dessas áreas, que de
cima pareciam ter apenas vegetação rasteira, quando exploradas por dentro, se
transformavam num mundo à parte, algumas com mais de 5 metros de profundidade e
tendo a fauna e flora cheios de um vigor inexplicável, levando-se em conta que
sofriam pressão de todos os lados por toneladas de areia. A sensação que tinha,
quando entrava numa região dessa, era de que observava uma luta pela
sobrevivência, luta essa já perdida para o poderoso movimento das dunas que
engoliam tudo no seu caminho. No entanto, a vegetação cumpria seu papel, como se
dissessem não importar se amanhã estarão enterradas, mas hoje continuarão a
viver e, se a duna impedir de ver o Sol e sentir o vento, então crescerão mais
um pouco. Infelizmente a velocidade de crescimento perde feio para
a de aterramento. Hoje, muitos desses mundos subterrâneos explorados durante
minhas caminhadas se encontram sob toneladas de areia. É possível que eu tenha
testemunhado os últimos momentos de vida desses locais e provado os últimos cajus
que apareciam em alguns deles. Todas as caminhadas realizadas por volta das 15
horas tinham o retorno por volta das 19 horas e, muitas vezes, quando já
escuro, sentava no alto de uma duna e observava as estrelas e o luar mágico,
sempre acompanhado dos sons da natureza.
Um dos problemas tanto na casa como nas dunas ao entardecer,
eram os mosquitos, extremamente sedentos por sangue. Nas caminhadas usava um
talo recolhido no mato, que ao ser agitado os afastava. Este artifício era
eficaz inclusive para evitar as terríveis picadas das mutucas (mosca da família
Tabanidae) bastante comuns por lá na época. Claro que tinham alguns mais
persistentes e arredios, mas esses terminavam sua investida eliminadas por uma
tapa certeira, hehehe.
Depois de explorar as dunas de Genipabu e Santa Rita, fui
explorar as praias para o lado de Pitangui. O litoral era tranquilo, praticamente
sem tráfego de bugres ou 4x4 muito comuns hoje. Atravessava o rio Ceará Mirim
na maré baixa e, após uma caminhada por um litoral sem dunas, de mar calmo e
com ondas pequenas, chegava em Pitangui. Foram várias caminhadas para este lado,
passando pelo rio e observando a balsa carregando um ou outro carro. Hoje tem
uma estrada de asfalto que acompanha o litoral, possibilitando tráfego intenso tanto
pela estrada como pela beira da praia. Da casa até a ponta de Pitangui eram 7
quilômetros de caminhada e, após atravessar o rio, tudo deserto. Hoje está tudo
tomado por construções, cercas e placas de propriedade particular. Começo a me
sentir como aqueles restos de matas condenadas a serem enterradas pelas dunas.
Para o outro lado, no sentido da praia da Redinha, também
foram várias caminhadas chegando até o rio Potengi. Na época só haviam
construções na praia da Redinha, muito popular como praia de veranistas e da
famosa ginga com tapioca. De lá, até a ponta de Genipabu, nada de construções,
embora o tráfego de bugres fosse mais intenso pela proximidade e fama das duas
praias. Hoje existem construções até sobre as dunas e uma ponte imponente
atravessa o rio Potengi. Pude observar durante estas caminhadas as boas ondas
para surfar, mas só pude cair uma vez já no ano de 1990. Apesar de uma forte
correnteza, a caída valeu muito a pena pela força das ondas e possibilidade de manobras.
Com relação ao sandboard, apesar das dunas fantásticas entre
as praias de Genipabu e Redinha, na época não tinha a prancha de areia e hoje,
até para entrar caminhando, é muito difícil.
O álbum abaixo mostra algumas imagens da praia de Genipabu
obtidas durante uma visita em janeiro de 2014, imagens da ponte Newton Navarro
sobre o rio Potengi e de uma velejada de Laser, acompanhado de um parceiro,
indo para a praia da Redinha, já a imagem obtida do Google Earth,
mostra os locais citados no texto.
Clique para ampliar. |
GENIPABU |
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