O final da aventura norte foi em Touros ( aqui ), a esquina do Brasil. Continuando a aventura pelo litoral, agora no sentido sul, o destino é Rio do Fogo partindo de Touros, para onde fui de moto no final do 2005. Nesta época trabalhava e morava em Canguaretama. Com minha velha companheira de estrada, a XLR 125, peguei a BR 101 logo cedo chegando na esquina do Brasil no final da manhã de um sábado. Após arrumar uma pousada simples na cidade, coloquei a bermuda e iniciei a caminhada exploratória partindo da barra do rio Maceió que corta a cidade ( imagem abaixo ). Naquela época o rio, berço da cidade, já estava muito poluído, hoje não acredito que tenha melhorado muito a situação, provavelmente esteja pior devido ao aumento da população sem o necessário investimento em saneamento. Essas coisas não são prioridade no Brasil, como prova os mensalões nossos de cada dia.
Não tinha muita esperança em encontrar ondas ou dunas. O objetivo era continuar a exploração do litoral através da caminhada. Por onde andei a maré era bem calma, apresentando apenas marolinhas na beira e proporcionando um banho tranquilo. As dunas, quando apareciam, eram baixas, mas o visual, deserto à época, era um incentivo a continuar o passeio. Quando encontrei o farol Gameleira, na praia de mesmo nome, que sucede a de Carnaubinha, já passava das 15 horas. O espírito aventureiro instigava a continuar a caminhada até Perobas, aonde cheguei já no final da tarde. Já estava escuro quando passei pela praia de Perobas, um litoral também de mar tranquilo, coqueiros e barcos pesqueiros. Após passar pelas habitações, caminhei mais algum tempo até avistar as luzes de Rio de Fogo, quando decidi retornar, intercalando um trecho inicial correndo e um final caminhando. Nos momentos de completa escuridão - em que alguns erradamente podem acrescentar de solidão - se tem uma interação entre um ser humano e a natureza local. O brilho do céu composto de estrelas e planetas visíveis ( não havia lua nesse dia ), associado ao brilho das algas nas marolas ( Noctiluca sp ) e dos vaga-lumes na vegetação ou na beira da praia se somavam e, ao olhar para meu corpo, podia me ver também brilhando. Seria apenas reflexo ou seria emissão de luz própria?, pouco importa, pois os momentos vividos e sentidos são únicos e não completamente traduzíveis em palavras, é pura metafísica.
Quando cheguei em Touros, já passava das 19 horas, foi só o tempo de tomar um banho e ir em busca de um restaurante onde pudesse encontrar algo adequado para os meus padrões alimentares e voltar para a pousada, pois ao amanhecer iria concluir a exploração de moto, indo por uma estrada de piçarra que liga Carnaubinha à Rio do Fogo.
A primeira parte da viagem - Touros até a praia de Carnaubinha - foi tranquila, pois a estrada era asfaltada, já a segunda parte, saindo de Carnaubinha até chegar a Rio do Fogo, foi um verdadeiro pesadelo. Muito buraco, areia e poeira vermelha que impregnava a moto e este motociclista de asfalto. Ainda bem que a XLR 125 era preparada para a trilha, já o piloto ... , hehe, um prego total. Apesar dos vacilos, principalmente quando cruzava com carros, em que a nuvem de poeira invadia até a alma deste pobre coitado, hehe, cheguei em Rio do Fogo. Reconheci os pontos por onde passei durante a caminhada do dia anterior e comprovei que cheguei bem perto de Rio do Fogo. Se a praia urbana de Touros ainda chama atenção pela beleza, a de Rio de Fogo nem tanto. Contudo, ao se afastar para os lados de Perobas ou de Zumbi, a beleza da natureza não atingida pelo homem voltava a se expressar. Hoje não sei como está a situação, pois os gringos estão comprando tudo, até a alma dos locais. Quando não são os gringos são as usinas eólicas, os criadores de camarões ou os resorts "paradisíacos". É a modernidade e o desenvolvimento, fazer o quê?
Depois de chegar em Rio do Fogo e tomar uma água para limpar a poeira da garganta, peguei a estrada asfaltada que liga a cidade com a BR 101 norte. Já passava das 11 horas quando saí de Rio do Fogo com destino à Canguaretama, parando apenas na saída da ponte de Igapó, em um posto de gasolina, para encher o tanque da moto. Em termos de quilometragem foram cerca de 160 quilômetros de Canguaretama à Touros, 30 quilômetros de ida e volta na caminhada, 12 quilômetros sendo 5 de asfalto e 7 de piçarra de Touros à Rio do Fogo, agora de moto e, de Rio de Fogo à Canguaretama, mais 160 quilômetros. Mas isso é nada comparado ao que ainda resta até chegar a divisa com Pernambuco, assunto para outros posts da sequência aventura sul.
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O início da caminhada. |
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Percurso de moto e à pé. |
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O farol após Carnaubinha ( imagem da internet ). |
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A praia de Perobas ( imagem da internet ). |
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