Outro dia, vendo algumas fotos antigas, me deparei com uma que me lembrou um dia nada comum. Na época, início da década de 80, quando ainda velejava de hobie cat 14, saí do Iate Club com destino à praia de Pirangi, parando em Ponta Negra. O plano era sairmos eu e um colega, cada um no seu catamarã, mas terminou eu indo sozinho e o colega foi levando o seu de carro. Até chegar em Ponta Negra, quando parei para tomar uma água e confirmar se o colega iria sair comigo de lá, o tempo estava limpo e vento bom, mas já havia algumas formações de nuvens escuras para o lado de Pirangi. O colega mais experiente, não quis se aventurar e me alertou que poderia encontrar vento forte no caminho. Como já estava próximo do destino final, achei que não teria problema, além do mais o colega iria pela orla me acompanhando visualmente sempre que possível, então botei meu hobie cat no mar e aproei para Pirangi.
O hobie cat é um barco que tem dois cascos ligados por uma armação de alumínio e o mastro fixado com estaiamento de aço inoxidável ( veja imagem abaixo ), com uma vela grande suficiente para fazê-lo adquirir grande velocidade com um vento bom. Neste dia, até um pouco depois de Ponta Negra, eram essas as condições, mas o que me esperava já próximo à Barreira do Inferno ( coincidência do nome não? ) eram condições extremas de vento e mar revolto. De repente me vi dentro de uma tormenta, com ondas assustadoras tentando engolir a mim e o barco, rajadas de vento que faziam os cascos descolarem do mar e chuva forte. A atenção tinha que ser grande com a proa do barco para não embicar ( entrar na água ) e com a vela para não perder a linha do vento, pois se perdesse a força do vento eu iria virar e ser engolido pelas ondas. Para complicar ainda mais a situação, um dos meus estais de proa ( fixa o mastro ao casco ) estava com um fio desfiado, o que seria bastante perigoso naquelas condições, pois poderia se partir fazendo o mastro cair junto com a vela, resultando em perda de embarcação e quem sabe da minha vida também.
Quando me vi nesta situação, sem saída, pois não conseguiria bordejar para voltar, tinha que ir em frente, me lembrei daquele ditado que diz: " Depois da tempestade sempre vem a calmaria". Pensando nisso, ocupei minha mente com os cuidados necessários para aquela situação extrema e passei praticamente o temporal todo controlando a vela, leme e os drops do barco nas ondas assustadoras de três metros ou mais, relaxando ao cantar bem alto uma música de muito sucesso, chamada de La Bamba, que no refrão diz: " Eu não sou marinheiro, sou capitão, sou capitão". O vídeo abaixo tem a trilha sonora desta minha velejada inesquecível, para quem quiser entrar no clima da aventura.
O temporal foi intenso, mas só pude relaxar já próximo de Pirangi, quando a calmaria reinou absoluta e então pude entender o que tinha acontecido ao me lembrar dos drops gigantescos e as posteriores subidas, com o mastro e vela querendo escapar de sua base. Alguns falariam em milagre, outros diriam sorte. o certo é que ao chegar já na praia de Pirangi e encontrar outro colega no hobie cat, esqueci o que passei atrás e relaxei empinando ( apoiando apenas um casco na água ) meu INANIG, nome do meu antigo hobie cat, várias vezes, bem pertinho da beira, cantando agora já com a voz rouca: " Eu não sou marinheiro, sou capitão, sou capitão".
Meu antigo hobie cat INANIG, na saída do Iate Club, com tempo bom. |
Condições bem parecidas com as que enfrentei. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário