Na primeira parte da aventura em São Miguel do Gostoso ( aqui ), o destino foi a praia de Enxú Queimado, agora, indo para o lado oposto, o destino é a praia de Cajueiro, distrito de Touros.
Foram muitas as caminhadas para o lado de Cajueiro, sempre para dropar as dunas de Lagoa do Sal e algumas vezes as de Cajueiro, para onde ia mais de moto atrás de onda para surfar entre dezembro e março.
As caminhadas eram muito prazerosas, saindo por volta das 12 horas, levando apenas vela e a prancha de sandboard, voltando já bem escuro, em torno de 7 ou 8 horas, às vezes até mais. Ia sempre com a maré secando, pois ao chegar no distrito de São José, antes de Lagoa do Sal, existe um trecho de falésia que, quando a maré está cheia, as ondas batem com violência, obrigando o desvio pela estrada. Os mais antigos dizem que o mar já engoliu muito daquela área e, nos últimos anos, esse processo tem se acelerado.
Após esse trecho de falésia, chega-se a Lagoa do Sal, onde temos a praia, que entre final de dezembro e início de março, tem ondas boas, bem cavadas e com força suficiente para proporcionar um bom surf. Temos a lagoa, que dá nome ao distrito, de água salobra, bem próximo da praia e, o verdadeiro motivo para ir tantas vezes lá, as dunas, algumas verticais, outras menos inclinadas proporcionando manobras de borda ( rasgadas jogando areia ) e ainda outras proporcionando aéreos em obstáculos naturais. Um paraíso que nos possibilita ainda, no início do ano, cajus de tamanhos variados, alguns doces outros um pouco azedos.
Numa dessas caminhadas atrás da pista de dunas de Lagoa do Sal, comecei os drops numa duna muito utilizada pelos nativos do distrito, que fica em frente à praia e à comunidade de pescadores. Ela proporciona drops verticais com rasgadões bem irados, mas o final não é livre, exigindo atenção dos que estão dropando. Após esquentar nesta duna, o próximo passo é a duna do tubo e do aéreo. Em uma direção, ao droparmos, passamos entre vegetações nativas, dando a impressão de um tubo. Logo depois a trilha se abre, possibilitando manobras iradas com a borda da prancha para os dois lados e com extensão suficiente para adrenalizar quem está descendo. Olhando para a praia, o tubo está à esquerda e a duna do aéreo à direita. Esta duna faz parte do mesmo morro contendo muita vegetação nativa e trechos de areia. O trecho que possibilita o aéreo é um desnível, quase uma barreira. Iniciamos a descida no topo do morro e temos que acertar a direção do drop para o desnível, dependendo da velocidade adquirida no início, ao chegar no desnível, damos um belo voo, despencando para o próximo estágio da duna que possibilita batidas (rasgadas) bem iradas. O problema é quando se erra o salto ou pouso, pois as consequências podem ser bem graves. Uma vez ao despencar do aéreo, cai com a perna direita de mau jeito, quase a patela (rótula ou a bolinha do joelho ) sai do lugar, mas foi só o susto. Ao me levantar da queda, observei que estava tudo no lugar, sentia apenas dores quando girava a perna, ou seja devia ter apenas forçado o ligamento lateral.
Tudo no lugar, o sol ainda alto, parti para a próxima duna da trip, na área mais próxima da falésia e mais afastada da praia frequentada pelos nativos de Lagoa do Sal. Nesta área a areia não é tão fofa e portanto as quedas são bem perigosas devido a falta de amortecimento. No entanto os drops são bem irados com muita velocidade e rasgadões e com alguns trechos bem verticais, não nos possibilitando ver o que tem na frente, o chamado drop cego. Após várias descidas, o Sol já se encontra no poente, hora de ir para o último ponto da trip, a duna do pôr-do-sol. Nesta duna o drop no início é bem vertical, mas do meio para frente ela perde verticalidade, possibilitando algumas descoladas em pequenas elevações presentes. Tudo isso cercado de muito verde, pássaros e insetos, além do barulho da ondas quebrando na praia.
Já próximo do Sol se esconder, fui para a parte mais alta observar o pôr-do-sol fantástico que se vê de lá e esperar o nascer da Lua cheia. Isso tudo de frente para o mar, cercado de mata nativa, saboreando muitos cajus e de cabeça feita pelos drops alucinantes nas dunas. Ao cair da noite, o silêncio era quebrado pelo barulho incansável das ondas na praia e o guincho de morcegos. Talvez me avisando da hora de partir do paraíso e seguir para o mundo real.
Iniciei minha caminhada de volta a São Miguel do Gostoso. Primeiro descendo a duna em direção à praia e de lá para meu esconderijo em Gostoso. A distância aproximada era de onze quilômetros, com a maré ainda seca, vendo a espuma das ondas brilhando intensamente. Umas duas vezes observei no céu estrelas cadentes ( meteoros ) e me lembrei de fazer pedidos. Sim!, por que não deixar a fantasia nos dominar de vez em quando?
Iniciei minha caminhada de volta a São Miguel do Gostoso. Primeiro descendo a duna em direção à praia e de lá para meu esconderijo em Gostoso. A distância aproximada era de onze quilômetros, com a maré ainda seca, vendo a espuma das ondas brilhando intensamente. Umas duas vezes observei no céu estrelas cadentes ( meteoros ) e me lembrei de fazer pedidos. Sim!, por que não deixar a fantasia nos dominar de vez em quando?
Foram dois anos e meio morando em São Miguel do Gostoso, com muitas trips para as dunas, algumas vezes combinando com a fase de lua cheia, outras vezes com a de lua nova. Algumas vezes tendo a companhia do meu velho companheiro de caminhadas - Vênus, outras vezes, apenas as estrelas cintilando e iluminando meu caminho de volta, mas todas de muita emoção e adrenalina.
Para Cajueiro, tendo como início de caminhada São Miguel do Gostoso, fui umas três vezes. Para Lagoa do Sal eram 11 Km para ir e para voltar, já para Cajueiro eram 30 Km ida e volta. Fui mais vezes para Cajueiro de moto, levando minha prancha de surf para surfar nas boas ondas que rolam nesta praia no período de dezembro à março. Mas isto será assunto para um outro post, pois tive a oportunidade de alugar uma casa nesta praia, surfar altas ondas e dropar nas boas dunas de Cajueiro.
Percurso de várias caminhadas entre São Miguel do Gostoso e Cajueiro. |
Área de falésia entre São José e Lagoa do Sal. |
Voltando de Cajueiro para São Miguel do Gostoso. |
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